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Encontro das Mulheres Yawanawá é marcado por troca de experiências e afirmação da identidade indígena

“Essa ideia de estar aqui é juntar o que antes já era junto. Pensei neste momento, porque cada mulher tem uma história de luta, de conquista. Nossas mães são mães do ar, que cortaram seringa com os nossos pais, que cuidavam da casa. Para nós foi dada a maior missão aqui na terra: a do cuidado”. Com essas palavras, a cacique Maria Júlia Yawanawá deu início ao Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá.

Aldeia Mutum, no Rio Gregório, sedia primeiro Encontro de Mulheres Yawanawá. Foto: Diego Silva/Secom

O evento foi realizado nesta terça-feira, 27, e reuniu na Aldeia Mutum grande parte das mulheres Yawanawá das mais de 17 aldeias localizadas ao longo do Rio Gregório, em Tarauacá. O governo do Acre, por meio da Secretaria de Povos Indígenas (Sepi), também se fez presente no encontro, já considerado um marco histórico para as mulheres indígenas.

“O governo cuida da floresta e, principalmente, de quem cuida da floresta”, frisa diretora da Sepi, Nedina Yawanawá. Foto: Marcos Santos/Secom

“Nós, mulheres, também temos uma responsabilidade muito grande de conduzir a nossa história, mas com base na nossa ancestralidade. É muito lindo ouvir ‘as minhas mães’, ‘as minhas avós’ e poder repassar isso para os meus filhos. Nós vemos um valor, um respeito do governo do Estado, da secretária Francisca Arara, em fortalecer esses povos, uma valorização aos povos indígenas”, destacou a diretora da Sepi, Nedina Yawanawá.

Anciãs Yawanawá estiveram reunidas na casa da cacique Maria Júlia Yawanawá para um café da manhã. Foto: Marcos Santos/Secom

Antes de se deslocarem para o Centro Awavãna, espaço que sediou o evento, as anciãs estiveram reunidas, com a participação da Sepi, em um café da manhã na casa da cacique Maria Júlia. Durante o momento íntimo, emocionante e de muitas risadas, as mulheres compartilharam um pouco de suas vivências e demonstraram alegria por participar de um evento tão importante para o Povo Yawanawá.

Organização dos Povos Indígenas do Juruá (Opirj) também esteve presente no evento. Foto: Marcos Santos/Secom

Trabalhando com 14 povos da região, a Organização dos Povos Indígenas do Juruá (Opirj) foi representada no evento pela secretária Eliane Yawanawá. “Este é o momento de encontro das mulheres antigas com a juventude, de como iremos dar continuidade para que a nossa tradição continue viva. Isso é um exemplo que vamos levar para outros territórios, para o fortalecimento do protagonismo da mulher indígena”, disse.

Relato de experiências

Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá reuniu 14 anciãs em momento especial de relato de experiências. Foto: Marcos Santos/Secom

A maioria falando na língua materna Yawanawá, as 14 anciãs do grupo contaram um pouco de suas experiências, das dificuldades que enfrentaram e dos momentos em que as lideranças eram somente dos homens, mas do importante papel que ainda assim desempenharam na história de suas aldeias.

Conhecimento ancestral e força feminina marcaram o evento Yawanawá. Foto: Diego Silva/Secom

Além das experiências, as anciãs destacaram o importante papel de uma liderança forte e madura e o quanto as mulheres são capazes de conduzir o povo. E aproveitaram para deixar um recado para as novas gerações. 

Geraldina Yawanawá (com o microfone) foi uma das que compartilhou sua história de luta e superação. Foto: Marcos Santos/Secom

Apesar de o evento ter sido organizado para as mulheres, os homens apoiaram e participaram de toda a programação, recebendo o reconhecimento das anciãs, que frisaram a importância dos ensinamentos transmitidos pelos homens. “Eu vivi 25 anos casada, tinha 41 anos quando ele partiu, e hoje meus irmãos, graças a Deus, são todos lideranças. Meu pai me ensinou muita coisa, de manhã, durante o café ele me aconselhava muito. E eu agradeço ao meu Deus pela minha família, me sinto muito orgulhosa da minha aldeia”, disse a anciã Geraldina Yawanawá.

Roda de conversas com lideranças

O Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá teve vários momentos importantes. Além do aprendizado que as anciãs repassaram, algumas das mulheres que exercem liderança nas cerca de 17 aldeias Yawanawá também estiveram em uma roda de conversa, conversando a respeito de suas conquistas, dificuldades e percepções.

Janete Yawanawá partiu da Aldeia Mushuinu para participar do encontro. Foto: Marcos Santos/Secom

Para a cacique da Aldeia Mushuinu, Janete Yawanawá, esse primeiro encontro foi um aprendizado, um momento de profunda reflexão e admiração. “É muito gratificante ver esse momento acontecer, eu me sinto inspirada em querer fazer mais, melhorar mais o que já venho fazendo na minha casa. Essa união traz uma força para nós, mulheres”, frisou.

As falas também se voltaram para a descrição dos trabalhos que são desenvolvidos e realizados nos territórios que se estendem ao logo das águas do Rio Gregório.

Cantorias Yawanawá

Cantorias das jovens Yawanawá encantam participantes do evento. Foto: Marcos Santos/Secom

Com vozes fortes e imponentes e ainda assim delicadas, as mulheres Yawanawá demonstraram todo o seu talento em um momento de cantorias tradicionais, gerando emoção e reflexão entre todos que assistiam.

A primeira apresentação ficou sob a responsabilidade de nove jovens que, ao cantar, interpretaram com muita emoção cada palavra descrita na língua do Povo Yawanawá. A segunda foi realizada por homens e mulheres da família Yawanawá que estavam no encontro. Em uníssono, todos reafirmaram sua identidade e ancestralidade, por meio dos cantos inspirados pela natureza.

Maria Júlia Yawanawá é a cacique da Aldeia Mutum. Foto: Marcos Santos/Secom

“Poder ouvir as meninas aqui na frente das nossas mestras é um momento muito especial”, celebrou a cacique Maria Júlia Yawanawá.

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Autor

Paiva Fernando
Editor chefe de vários jornais online O jornalista mais lido na Blasting News Mais de 150 milhões de leitores